domingo, 5 de setembro de 2010

Chile anuncia mudanças na SST da mineração e da geologia.


Na tentativa de evitar que mais acidentes em minas de ouro e cobre ocorram no Chile, o governo chileno anunciou uma série de mudanças no setor de mineração e geologia do país. Uma comissão técnica tem 90 dias para concluir as propostas. Mas a ideia é ampliar a segurança dos trabalhadores nas minas, monitorar a atuação dos responsáveis e manter o governo no controle das atividades do setor.

O presidente chileno, Sebastián Piñera, e os ministros das Minas, Laurence Golborne, e da Secretaria-Geral de Governo, Ena Von Baer, anunciaram o amplo plano de modificações no Serviço Nacional de Geologia e Mineração. O objetivo é que as mudanças sejam colocadas em vigor a partir do próximo ano. "O principal objetivo da transformação é promover o controle de mineração de segurança para evitar situações como a da mina de San José. O presidente Sebastián Piñera deixou claro que nunca mais deve ocorrer situação como a que vivemos hoje e será assim", disse o ministro Golborne. As informações são da Presidência da República do Chile.

Desde o último dia 5 de agosto, 33 trabalhadores estão soterrados na mina de San José, ao Norte do Chile, depois que houve um desabamento na região. Monitorados por equipamentos de última geração, os mineiros aguardam o resgate que pode terminar apenas em novembro. Até lá, os trabalhadores recebem oxigênio, comida e medicamentos por sondas enviadas até o local onde estão, a 700 metros de profundidade.

Pela proposta do plano de modificação do setor, deve ser ampliado o controle da indústria que atua nesta área e particularmente relacionada à questão de segurança de mineração. Também devem ser revistas as concessões de licenças e controle de processos, incluindo eventuais sanções. Para supervisionar as indústria e a segurança nas minas, serão observadas as atividades de prospecção, os registros de mineração e propriedade, além das demais estatísticas relacionadas à área.

O plano determina ainda a criação de um comitê consultivo externo, que será responsável pela revisão dos regulamentos de segurança nas minas, modelos e competências dos organismos de fiscalização, além de supervisionar os papéis e as funções administrativas. O grupo será formado por engenheiros, geólogos e advogados. O objetivo é que o trabalho deste comitê fique pronto em 90 dias.

"A mineração é a líder da indústria nacional. Queremos crescer durante muitos anos e o relatório de receitas do Chile precisa disso", disse Golborne. "Mas devemos cuidar, proteger e transformar à luz das novas exigências do século 21. Como o governo, vamos fazer a nossa parte, mas os empregadores e os trabalhadores também devem cooperar. Assim, juntos, podemos construir uma mineração que orgulhosamente representa o coração do Chile.

Impasses do resgate


O ministro de Mineração do Chile, Laurence Golborne, disse que partiu do presidente Sebastián Piñera o pedido para que fossem estudadas outras formas de resgate dos 33 mineiros. No entanto, foi cauteloso ao falar do “plano B”. 
Ele garantiu que há dez opções diferentes sendo analisadas pelos técnicos e engenheiros, e que uma delas seria aproveitar um duto que já chega a uma oficina da mina, a 600 metros. Por um túnel de formato helicoidal, os mineiros chegariam à oficina, que está a cerca de 300 metros de onde estão. 

Segundo ele, a alternativa é apenas uma possibilidade de resgate, e pode não atingir esse objetivo. “Essa nova sonda, se funcionar, nos permitirá entregar aos mineiros produtos de maior tamanho. Isso nos dará a possibilidade de um resgate, se funcionar bem. Mas são técnicas que serão testadas passo a passo, dia a dia.”

Golborne também desmentiu as declarações anteriores de Walter Herrera, gerente de qualidade da empresa Reotec – responsável pelas sondas usadas na operação. Herrera havia dito que o prazo de perfuração do “plano B” era de dois meses. “Retifico a informação: os prazos de resgate são de três a quatro meses, como se disse desde o princípio. Mais do que os prazos, o importante é que não tenhamos nenhuma falha. Queremos resgatá-los pelo menos nesse prazo. Se for possível fazê-lo antes, será bem vindo”, disse o ministro.

Apesar das declarações realistas, Golborne se esforçava para sorrir – principalmente quando apresentou os produtos que serão enviados pouco a pouco, nos próximos dias. Entre os itens estão lenços umedecidos; meias especiais com fios de cobre, para proteger contra infecção por fungos e bactérias; um copo com o nome gravado de cada um; aparelhos de MP3 com músicas liberadas pela associação chilena de proteção aos autores; roupas com características especiais para umidade; um aparelho pequeno que serve como projetor, para que vejam filmes e partidas de futebol; e, por fim, uma cama montável, que permita dormir acima do solo. Golborne falou com exclusividade a VEJA.com:

O plano B significa um problema com o plano A?

Não. O que estamos fazendo é estudar alternativas complementares, que não têm nenhuma ligação com o que já está sendo feito. O único plano que temos, de fato, é aumentar o tamanho de um duto para poder enviar coisas de tamanho maior, não é para ser um resgate. Essa é uma alternativa de resgate diferente da que já estamos fazendo. Para o resgate mesmo, está sendo feita uma avaliação para se chegar a uma solução técnica adequada. Nosso melhor cenário hoje, enfrentado de maneira responsável e seria, é levar até quatro meses, dependendo das dificuldades técnicas que se pode encontrar. Qualquer opção melhor que essa, se aparecer, será adotada. Hoje, não existe essa opção.

Quais são os verdadeiros riscos de que as tentativas de resgate não funcionem e os homens não saiam vivos da mina?

É impossível antecipar os reais riscos. Estamos fazendo tudo que é humanamente possível para retirá-los com vida desta montanha. Temos uma tremenda fé de que vamos alcançar, mas estamos sempre limitados pela capacidade do ser humano. Sem dúvida, está se fazendo tudo o que é possível, todos os recursos de engenharia, de medicina disponíveis no país e no mundo inteiro para satisfazer essa necessidade. 

Como está agora o problema da umidade?

Há um nível de umidade alto, de 80%, e uma temperatura em torno de 29 graus, o que não é um ambiente dos mais agradáveis, mas vamos ter mecanismos para melhorar a situação, já estamos trabalhando duramente nisso. 

Como ficarão as funções das três sondas?

Do ponto de vista tecnológico, os três dutos são iguais, mas servem para coisas diferentes. O primeiro e o segundo estão separados por dois metros de distância, do ponto de chegada. O primeiro passa comida e remédios; o segundo ficará reservado para água, eletricidade, comunicação e ar. O terceiro será para produtos maiores, servindo para um eventual resgate.

O senhor ordenou que façam uma fiscalização rigorosa em todas as minas do país. Se isso fosse feito antes, em março, quando se iniciou o novo governo, esse acidente não poderia ter sido evitado?

Este acidente está sendo investigado na Câmara de Deputados. Há uma série de eventos que chamam atenção, e o que está claro é que no ano de 2008 havia uma ordem de que essa mina tivesse uma via de escape, coisa que não se fez. Os direitos a essa mina foram concedidos há muito tempo e antecedem o governo atual. Essa responsabilidade será determinada por uma investigação que está em curso. Eu, do ponto de vista do governo de Sebastián Piñera, me sinto muito tranquilo. Sei que esse governo fez tudo o que é humanamente possível e o máximo esforço para resolver essa catástrofe. 


Fonte: Agência Brasil e Revista Veja.

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